segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Artigo - APRENDER A RESPEITAR E VALORIZAR A DIVERSIDADE RACIAL DENTRO DO ESPAÇO ESCOLAR: PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE MELHOR.



APRENDER A RESPEITAR E VALORIZAR A DIVERSIDADE RACIAL DENTRO DO ESPAÇO ESCOLAR: PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE MELHOR.

Giselly Santos do Nascimento[1]

RESUMO: O presente trabalho sociabiliza, discute e reflete sobre o papel da escola em orientar seus alunos a enxergar a diversidade como tal, e analisar a importância de todos para construção da sociedade. Ao refletir as necessidades da sociedade da qual vivemos, percebo o quão complexa se torna as relações inter-raciais e seus modos de convivência escolar. Diante disto, meu trabalho é de despertar um olhar critico sobre tal situação. Observando a escola como principal orientadora para ajudar aos discentes a refletir suas atitudes e palavras com o próximo, destaco que a mesma é responsável para despertar o olhar de respeito e valorização da diversidade racial, construindo um mundo mais humano e justo, o qual seja digno de ser habitado por todas as diversidades existentes. É nesta perspectiva que iremos compreender quem é o outro, para a construção e implantação de uma educação pautada na realidade dos sujeitos envolvidos. Entendendo que cada indivíduo representa um papel de grande importância na sociedade. E que, as diferenças devem ser respeitadas dentro de uma realidade harmônica, e assim possa todos os envolvidos tomar consciência de que cada ser tem sua necessidade especifica, e deve ser respeitada. E a escola ambiente onde se confronta todas as diversidades raciais não poderia deixar de ser, o local mais apropriado para desenvolver esses saberes.

Palavras-chave: Diversidade racial. Escola. Educação. Qualidade do ensino.


1 INTRODUÇÃO

No Brasil, temos uma população miscigenada e diversificada, porém isso não significa que sabemos conviver com as diferenças. Nos últimos anos crianças das mais diversas origens têm vindo a diversificar e a enriquecer as nossas escolas, no entanto a sua integração em contexto escolar coloca-nos alguns desafios. Diante dessa realidade, a educação escolar está submetida a trabalhar para a diversidade, ensinando a respeitar, valorizar e conhecer todos os discentes. Tendo como uma de suas metas para um ensino de qualidade, incentivar a possibilidade de a criança interpretar os vários papéis existentes na sociedade, entendendo as diversidades, porém, sem gerar desigualdades diante da importância de cada ser. Partindo dessas primeiras considerações, o principal objetivo desse trabalho é analisar a importância da educação para a diversidade racial evitando a exclusão escolar e social, buscando questões e temas que destaque o mérito da discussão, refletindo sobre o papel da escola em trabalhar a diversidade racial, despertando a consciência dos discentes para torna-los seres pensantes e cidadãos críticos capazes de mudar a realidade do mundo e acabar com todas as formas de subordinar as minorias.
Este trabalho só foi possível de acordo com ajuda das fontes teóricas, as quais enriqueceram as discussões. Realço como autores de grande mérito para esse estudo: FREIRE (1996), LIMA (1998), e SANTOS (1990) entre outros, que através de suas pesquisas estão construindo caminhos que nos fazem refletir sobre a diversidade racial, rompendo as barreiras causadas pelo racismo, possibilitando também um novo olhar sobre a diversidade de um modo geral, existentes no ambiente escolar e em nossa sociedade.
 Para mudar a realidade vivida na sociedade atual, é preciso começar pela escola. Pois, a escola é reflexo da sociedade, repetindo valores e práticas positivas, mas também negativas, como atitudes preconceituosas direcionadas para as pessoas com características diversas daquelas que são consideradas como ‘padrão’. A escola apresenta como vantagem o fato de se constituir como espaço no qual seus valores e suas práticas podem ser questionados, revistos e modificados. Despertando o pensamento de como enfrentar o desafio de oferecer um ensino que respeite a diversidade racial.  

2 DIVERSIDADE RACIAL NA ESFERA DA VIDA ESCOLAR: CONHECENDO E COMPREENDENDO MELHOR ESTE ASSUNTO.

Sempre há um tom de dúvidas e preconceito quando o assunto é diversidade racial, contudo pensar em tal tema é um tanto que equivoco da parte daqueles que tentam afirmar que existem sim raças humanas. Só existe na terra uma única espécie humana, chamada homo sapiens. O que chamamos de “raça” se resume a cor da pele. Em comparação com a pele de outros primatas, a pele humana possui menor pelagem. A cor do pelo e da pele é determinada pela presença de pigmentos, chamados melaninas. A maioria dos autores acredita que o escurecimento da pele foi uma adaptação que evoluiu como uma defesa contra a radiação solar ultravioleta (UV), a melanina é uma substância eficaz contra esta radiação. Por desconhecer estas verdades, muita gente julga as pessoas pela cor da pele. Mas precisam compreender que a pele é:
Uma roupa sem igual. Cai bem em grandalhões ou nanicos, gordos ou magros. São 2 metros quadrados de tecido humano de qualidade. Versátil, aquece no frio e refresca no calor. Veste perfeitamente em qualquer ocasião, formal ou informal (SANTOS, 1990, p. 93).

Entendendo isto, destaco. Somos todos diferentes, seja culturalmente, socialmente, geneticamente, ideologicamente entre outros, porém somos todos iguais em questão de classificação, não somos como as várias espécies de aves, que a primeira vista são todas aves, mas se diferenciam em raças, conosco seres humanos não é assim, não há uma característica que possa nos diferenciar de ser humano. Ter uma população formada por diversidade racial é para ser um motivo de orgulho para todos nós brasileiros. Mas será que essa diversidade é valorizada tanto pela sociedade como pela escola?
Falar em diversidade significa constatar as várias diferenças sociais, reconhecer essa complexidade que envolve a problemática social é o primeiro passo que a escola deve trabalhar. Embora a diversidade racial sempre tenha estado presente nas salas de aula, a preocupação em atender a todos sem exceção, é recente nas escolas brasileiras. O predomínio da política do branqueamento fez com as outras manifestações fossem praticamente aniquiladas.
Em sua historia, o Brasil passou por várias ondas de nacionalismo exacerbado, principalmente nos períodos de regime político autoritário, o qual deixou suas enormes marcas. A necessidade de manter unido o povo em torno de um poder centralizador, abafando reivindicações e necessidades divergentes, criou mitos como o do “Brasil sem preconceitos”, onde todos seriam tratados igualmente- mas isso ficou apenas na teoria. Essas falsas verdades repercutiram também na escola e consequentemente deixando suas marcas na educação do nosso país. Onde, os livros didáticos excluíam ou mostravam de forma caricata negros, índios e migrantes. O sistema, por sua vez, determinava a aplicação de um currículo único, sob o pretexto de oferecer uma educação igual para todos.
É importante ressaltar que a realidade do nosso país precisa ser enxergada pela escola. Onde a mesma precisa se mobilizar para realizar algo que mude nossa realidade, pois é nela onde tudo se recomeça e se reconstrói, é o lugar onde as crianças começam, a enxergar com outros olhos o mundo, é nesse momento que precisamos mostrar para eles que todas as pessoas são de suma importância para a sociedade e que todos são iguais em direito. E que para se construir uma verdadeira sociedade digna de ser habitada por todos, é preciso reconhecer cada ser como protagonistas de uma grande historia.

3 UM OLHAR SOBRE A DIVERSIDADE RACIAL: AMPLIANDO A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO, REDUZINDO A DESIGUALDADE ESCOLAR.

            Delimitar sobre diversidade racial na escola, não é uma tarefa fácil, pois aborda várias situações e contextos diversos. Pois, a escola tem sido apresentada de um modo geral, nas pesquisas sobre questões raciais, como base conservadora e excludente ao se pautar em um modelo de currículo que poderíamos denominar “embranquecido” diante da ausência de conteúdos que possam contribuir para a integração e o reconhecimento de todos os alunos.  O padrão hegemônico de cultura, de estética, de historia eurocêntrico no sentido de que prioriza a cultura europeia e o homem branco como padrão e modelo de civilização em detrimento de outras culturas. Esse modelo, no qual a escola brasileira se baseia, deve ser questionado e ressignificado, pois valoriza os que nele se enquadram e avalia negativamente todos os que dele se afastam. Para analisamos esta questão, recorro as ideias de Paulo Freire (1996), com a certeza de que expressam o importante papel dos professores para construção de uma escola para a diversidade.
(...) homens e mulheres do século XXI necessitam de uma educação para a diversidade, necessitam de uma ética da diversidade e de uma cultura da diversidade, pois uma sociedade multicultural deve educar o ser humano multicultural, capaz de ouvir, de prestar atenção ao diferente e respeitá-lo.

            Como podemos perceber a escola tem um papel fundamental na formação da identidade das crianças por ela acolhidas e, por isso, precisa ter clareza da necessidade de positivar a diversidade pela qual é constituída. É importante que o professor, tenha elementos para compreender melhor a formação das relações raciais na cultura brasileira e possa interferir no cotidiano da instituição escolar. Geralmente, na escola, trabalhamos como se não houvesse diferenças, com base em um discurso que prega a igualdade entre as crianças- apesar de ocorrerem práticas ostensivas de diferenciação em especial de caráter racial. Esse discurso tenta construir um reconhecimento de igualdade de direito de cada um, fundamentado na ideia de que vivemos em uma sociedade harmoniosa racialmente, seria muito bom se isto fosse verdade, infelizmente não é assim que acontece em nossa realidade.
            Em muitas situações evidenciadas no espaço escolar, observamos que há características que podem nos fornecer informações sobre a origem geográfica ancestral das pessoas: uma pele negra pode nos levar a inferir que a pessoa tenha ancestrais africanos, olhos puxados evocam ancestralidade oriental etc. Mais isso é tudo; não há nada mais que se possa captar a flor da pele? Pense bem. Como é possível que o fato de possuir ancestrais na África faça o todo de uma pessoa ser diferente de quem tem ancestrais na Europa? O que tem a pigmentação da pele, o formato e a cor dos olhos ou a textura do cabelo a ver com as qualidades humanas singulares que determinam uma individualidade existencial? Tratar um individuo com base na cor da pele ou na sua aparência física é claramente errado, pois alicerça toda relação em algo que é moralmente irrelevante com respeito ao caráter ou ações daquela pessoa. O que se torna latente em nossa sociedade é a banalização do preconceito - ainda existe muito preconceito com relação a religião, cor da pele, traços genéticos, como se isto fosse referencia para a marginalização de um individuo.
Precisamos, no nosso trabalho cotidiano escolar, incorporar o discurso das diferenças não como um desvio, mas como algo que enriquece nossas práticas e as relações entre os discentes, possibilitando o enfrentamento de práticas de racismo a construção de posturas mais abertas às diferenças e, consequentemente, a construção de uma sociedade mais plural, que conheça, reconheça e valorize a importância de cada ser dentro da sociedade.
Destaco para analisamos a diferença diante da nossa sociedade, e também avaliar a convivência que pode ser boa se aprendermos a lidar com as diferenças, lanço mão das sabias palavras de LIMA (1998) a “diferença enriquece a vida e a igualdade é um direito de todos. Somos iguais nos direitos a vida”. Este exposto nos faz refletir, ressignificar, reinventar e reavaliar formas de vida, de educação, de brincar, com o propósito de desfazer certos conceitos negativos já formados no nosso cotidiano.
 Só assim nos possibilitamos olhar diferente para o outro, reconhecendo seus valores e valorizando sua importância para toda a nossa sociedade. O primeiro passo para destruir a barreira causada pelo racismo oriundo no meio escolar, é a escola tomar uma verdadeira posição de formadora de uma educação diversa e igualitária, destruindo a ideologia do branqueamento, dando voz e vez a todos. Tendo o conhecimento que somos todos iguais em direito.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
            É de suma importância valorizar a diversidade racial, é imprescindível, é mais que isso, é preciso lutar para que haja o respeito, por parte de todos, a essa diversidade. Por isso faz-se necessário discutir este tema no campo escolar. Onde podemos entender que a sociedade não é homogenia a escola como parte integrada da sociedade, também não é. No espaço escolar, há uma grande diversidade racial que constroem uma dinâmica fundamentada na pluralidade. Precisa-se, nesse contexto que os docentes e os demais profissionais da escola reconheçam como parte do seu papel desenvolver entre os alunos, relações de respeito, aceitação e amizade.
A escola é um espaço onde se forma opinião, onde se constroem ideologias. Então, que se aproveite esse espaço para assim assumir a diversidade racial e usar dos artifícios que a escola possui para formar um pensamento de respeito, por meio das pessoas, as diferenças raciais.

REFERÊNCIAS


FREIRE, Paulo. Educação como pratica da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974.

LIMA, Heloisa Pires. Histórias da preta. São Paulo; Companhia das Letrinhas, 1998.

SANTOS, Joel Rufino dos. A questão do negro na sala de aula. São Paulo: Ática, 1990.




[1] Estudante de Pedagogia, do Centro de Humanidades (Campus III – Guarabira/PB), da Universidade Estadual da Paraíba.

Nenhum comentário:

Postar um comentário